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Falta pouco para a Capital Federal virar oficialmente flor

Estão chegando em Brasília nos dias 15 e 16 de agosto cerca de 200 mil Margaridas de todos os lugares do país. Será o dobro de mulheres em relação a 2019, ano da última Marcha.

Elas vão participar da 7a. Marcha das Margaridas que acontece a cada quatro anos. A Marcha das Margaridas, a maior do gênero no Brasil e na América Latina, é o momento em que as mulheres do campo, das florestas e dos rios caminham por justiça, igualdade e paz em pleno coração da República.

Em 2023 o tema é a esperança: “Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”. Em junho elas apresentaram propostas ao governo federal para contribuir na reconstrução do Brasil. Elas querem o fim das desigualdades sociais, de gênero e de raça.

Margaridas por Inspiração

O nome Margaridas é uma homenagem à líder sindicalista paraibana Margarida Maria Alves (veja aqui vídeo de 2021). Ela foi a primeira mulher primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Alagoa Grande nos anos 1970. Algo raro no Nordeste daquela época.

Margarida Alves queria que as trabalhadoras e trabalhadores rurais também tivessem garantidos os direitos trabalhistas. Entre eles, o direito à carteira assinada, ao 13o. salário, à jornada diária de trabalho de 8 horas e a férias. Direitos que já haviam sido conquistados pelos trabalhadores da cidade.

Foram anos de ações na justiça para defender as trabalhadoras e trabalhadores rurais. Enquanto Margarida defendia a igualdade de direitos no campo e na cidade, a tensão crescia na área rural.

Em 12 de agosto de 1983 ela foi assassinada por pistoleiros de aluguel em frente à sua casa, em Alagoa Grande. Margarida tinha 50 anos, era casada e tinha um filho que estava na casa na hora do crime. Passados 40 anos, até hoje ninguém foi condenado.

Se estivesse viva, Margarida Alves teria completado 90 anos. Ela teria visto as mulheres do campo conquistarem o direito à aposentadoria em 1988 durante a Constituinte, lei que foi regulamentada em 1994.

A morte de Margarida não foi em vão. O crime teve repercussão internacional, com denúncia encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por cinco entidades, entre eles o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).

A líder sindical se transformou em símbolo de resistência. E também de luta contra a violência no campo, pela reforma agrária, pelo fim da exploração das mulheres e homens que trabalham no meio rural e pelo fim da violência sexual contra as mulheres do campo. Daí nasceu a Marcha das Margaridas em 2000. A cada caminhada, o movimento foi agregando mulheres de outros lugares do país, inclusive das cidades.

Uma Lei como Exemplo

Na terra de Margarida Maria Alves, uma lei estadual aponta novos caminhos para o fim da violência. A Paraíba instituiu, em 2021, o dia 12 de agosto como o Dia Estadual das Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos, com ações de estímulo e divulgação sobre a atividade.  Uma lei que deveria ser ampliada para todo o país para estimular a solidariedade e o respeito aos diferentes grupos sociais existentes no Brasil.

Aqui em Brasília o Coletivo Filhas da Mãe, criado em dezembro de 2019, recebeu este ano o prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) pelo trabalho que vem realizando. No dia 16 caminharemos ao lado das Margaridas.

Acreditamos na importância de construir uma Sociedade do Cuidado que respeite e proteja a vida e a qualidade de vida das mulheres de todo o país.

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Ana Castro - Jornalista aposentada com experiência de 30 anos em redações de jornal, rádio, tv e produtoras de vídeo. Atuou na gestão da comunicação no setor público e privado. Cuidou da mãe com doença de Alzheimer por 14 anos. Foi voluntária da ABRAz-DF enquanto o grupo esteve atuando. Ex-integrante do Fórum dos Direitos do Idoso do DF. É uma das criadoras do Coletivo Filhas da Mãe.
Cosette Castro - Psicanalista, Jornalista, Pesquisadora. Pós-Doutora em Psicologia Clínica e Cultura (UnB). Doutora em Comunicação (UAB/Espanha). Professora em Comunicação por 22 anos. Pesquisa cuidado e autocuidado, mulheres e inclusão digital. Representa o Coletivo no Fórum da Pessoa Idosa/DF. É uma das criadoras do Coletivo Filhas da Mãe.

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Texto originalmente publicado no Correio Braziliense dia 14 de agosto.

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