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Mais da metade das mulheres brasileiras têm a saúde mental afetada pelo trabalho

pandemia de covid-19 acendeu um alerta em todas as pessoas para o cuidado com o bem-estar e a saúde mental. Para mulheres, que têm que conciliar uma dupla jornada das atividades profissionais e pessoais, o impacto é ainda maior. Uma pesquisa realizada pela edtech Todas Group revelou que o trabalho acaba impactando mais da metade das mulheres brasileiras. O resultado mostrou que 51% das mulheres demonstram esses impactos negativos ocasionados pelo trabalho.

Para Viviane Leite, que é consultora e qualificada em bem-estar na Universidade de Yale, esse impacto acontece para todas as pessoas pelo fato de o trabalho ser o local onde se passa a maior parte do dia, mas mulheres, especificamente, carregam um impacto histórico muito grande. “O nível de sobrecarga acumulado ao longo dos anos é muito grande e as mulheres acumulam outras atividades ao longo do dia que geram uma sobrecarga maior ainda”, explica.

A questão da saúde mental feminina no ambiente de trabalho, entretanto, não é novidade. Viviane também chama a atenção para a questão do burnout, que é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante.

A pesquisa Women in the Workplace 2021, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn no ano passado, apontou que 42% das mulheres do planeta convivem com sintomas da síndrome de burnout.

“O ambiente de trabalho é um grande impactante na questão da saúde mental e é extremamente importante trabalhar no desenvolvimento de soluções que olhem para essas questões. O burnout está acontecendo e entendemos que essa síndrome traz um custo muito alto para as organizações também”, afirma.

“No Brasil é em torno de US$ 80 milhões por ano e fazendo uma relação entre homem e mulher, a incidência é muito maior em mulheres. Precisamos falar sobre isso e ter atenção no assunto, porque a pesquisa escancara a importância de olhar para o ambiente e para a mulher em si. Precisamos melhorar o bem-estar e discutir como as empresas podem ajudar nisso”, completa.

Esses impactos, explica Viviane, refletem na produtividade no trabalho e também na vida social, com impacto direto no bem-estar geral. Saúde física, relacionamentos, saúde mental e situações dentro de casa com a própria família podem ser afetadas.

Dados revelaram que o bem-estar corporativo das mulheres no Brasil ainda está longe do ideal (Foto: Todas Group/Divulgação)
Dados revelaram que o bem-estar corporativo das mulheres no Brasil ainda está longe do ideal (Foto: Todas Group/Divulgação)

“Dentro do mercado de trabalho o impacto mais extremo é a saída da mulher desse ambiente. Nós já temos 50% das mulheres fora do mercado de trabalho, e uma em cada três mulheres chegou a pensar em deixar o trabalho durante a pandemia. As próprias empresas também começam a enxergar que o bem-estar corporativo reflete na saúde financeira do negócio. O custo para empresas com absenteísmo e treinamento de novos funcionários, por exemplo, é bastante elevado”.

Depressão, falta de energia e insatisfação pessoal

Outros resultados verificados através do Índice Geral de Bem-Estar mostram que o cenário para mulheres no mercado de trabalho brasileiro ainda está longe do ideal. Entre as entrevistadas, 70% alegaram que se sentem preocupadas ou deprimidas em função do trabalho, 63% se mostraram deprimidas por conta dele, 62% disseram dormir mal por causa do trabalho e 61% afirmaram se sentir sem disposição e energia.

Por outro lado, 45% das mulheres afirmaram ter confiança de que podem conquistar tudo o que desejam no emprego atual, mas o grande paradoxo é que apenas 29% das entrevistadas disseram estar satisfeitas com o que já conquistaram dentro da empresa atual. “Isso demonstra a importância de abrir espaços para que as mulheres sejam ouvidas para que soluções sejam encontradas”, diz Viviane. Tatiana Sadala, que é cofundadora da Todas Group, também chama a atenção para o fato de que praticamente metade das mulheres não conseguirem encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. “Apenas 51% das mulheres conseguem equilibrar vida pessoal e profissional, e esse é um dado preocupante, já que mostra que metade das mulheres não dá conta de tudo que precisa fazer.”

Em relação às atitudes das empresas em busca de uma equidade, as mulheres também não se mostraram muito otimistas. Um fator de atenção é que 49% das entrevistadas se disseram preocupadas com a coerência entre a divulgação das ações de diversidade, e a prática e 53% alegaram não acreditar no apoio genuíno das empresas no desenvolvimento da liderança feminina.

Por outro lado, apesar de uma aparente falta de apoio, 64% das mulheres disseram se sentir seguras para opinar com seus colegas de trabalho e 70% afirmaram que os chefes e colegas de trabalho fazem bem a elas.

Como mudar a situação?

Para Viviane, um ambiente de trabalho mais inclusivo é mais saudável para todas as pessoas e, hoje em dia, as empresas buscam e anseiam por soluções que realmente tornem o ambiente assim, mas ressalta que os caminhos adotados nem sempre são tão assertivos.

“Quando vemos essas questões da saúde mental, a diversidade e inclusão também são impactadas. Uma comunicação mais assertiva das empresas para as mulheres e uma abertura de diálogo pode diminuir esse prejuízo para a saúde mental. Quando a empresa faz um raio-x do seu quadro de colaboradores, ela passa a entender a dor de determinado grupo e a pensar maneiras e onde colocar seus esforços”.

Ela também afirma que o raio-x irá mostrar com clareza para as empresas onde estão mapeados os pontos de dores e atenção para que se possa avançar em busca da equidade de gênero e as carreiras das mulheres possam ser aceleradas e impulsionadas.

“Se a empresa quer realmente acelerar o processo de um ambiente inclusivo, ela precisa mapear as necessidades e abrir um diálogo. Já são 134 anos que estamos lutando e precisamos chegar nessa equidade de gênero. É importante abrir um espaço para que as mulheres sejam ouvidas”.

Tatiana também destacou o fato de as empresas que conseguirem oferecer as melhores condições de trabalho podem vir a ter uma vantagem competitiva sobre as concorrentes. “As empresas que conseguirem, de fato, oferecer condições capazes de levar bem-estar às suas colaboradoras, terão uma grande vantagem competitiva na atração dos melhores talentos, principalmente em posições seniores, um problema que, a cada dia que passa, fica maior”.

Ela ainda chamou a atenção para a importância da autoconfiança e do empoderamento feminino para que a situação melhore. A mulher precisa buscar o autoconhecimento e saber o que é realmente importante para ela. Ela também chama a atenção para questões de classe social e gênero, que podem diminuir a autoconfiança das mulheres.

“A mudança desse cenário fundamentalmente passa por questões de classe social, raça, momento atual da carreira e autoconfiança. Um total de 45% das mulheres acreditam que podem chegar profissionalmente onde sonham, mas uma pesquisa de Harvard mostra que mulheres só adquirem a mesma autoconfiança de um homem depois dos 40 anos. Muitas vezes a mulher acha que é uma fraude, a síndrome da impostora, mas isso não é biológico, é cultural. Historicamente a mulher é colocada abaixo do homem, então temos que reconhecer que isso é cultural para poder mudar. Também é de extrema importância ter um olhar coletivo, pois há mulheres que, por exemplo, são mães solteiras e precisam estar em casa com seus filhos e nós, como um grande ecossistema de mulheres profissionais que crescem juntas, temos que entender nosso papel social para ajudar as outras”.

“Historicamente, as mulheres vêm ganhando espaço no mercado de trabalho, apesar das referências ainda serem poucas quando comparadas às dos homens. Por isso, essa conquista precisa vir acompanhada de programas de suporte específicos para elas, com abrangência profissional e pessoal, assim estarão mais fortalecidas e capazes de formarem novas referências para as próximas gerações”, completa Viviane.

Por fim, Tatiana destacou a importância da pesquisa realizada pela Todas Group para conscientizar sobre a urgência que é falar sobre a saúde mental das mulheres no ambiente de trabalho.

“Os números trazidos mostram essa urgência e precisamos começar agora. As empresas precisam investir e fazer isso acontecer, tornar o ambiente inclusivo e saudável. 57% de índice de bem-estar corporativo é algo inaceitável e nosso compromisso tem que ser chegar no mínimo a 80% em todas as empresas”.

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